Controle de armas pelo Estatuto do Desarmamento está sob pressão no Brasil
Enquanto
a discussão sobre o controle de armas ganha força nos Estados Unidos, o
Brasil vive um movimento inverso, com diversas tentativas de
parlamentares para flexibilizar o acesso às armas de fogo e aumentar o
número de categorias com direito a porte de arma, alerta Melina Risso,
diretora do Instituto Sou da Paz, organização não governamental que atua
na prevenção da violência.
No Brasil, a presidenta Dilma Rousseff vetou integralmente o texto
do Projeto de Lei 87/2011, há pouco mais de uma semana. A justificativa
foi que, se sancionado, implicaria maior quantidade de armas de fogo em
circulação, “na contramão da política nacional de combate à violência e
em afronta ao Estatuto do Desarmamento”.
O tema voltou a ser discutido nos Estados Unidos depois do recente
massacre em Newtown, no estado norte-americano de Connecticut, quando o
jovem Adam Lanza, de 20 anos, atirou contra crianças e funcionários de
uma escola infantil e provocou 26 mortes. O crime ocorreu em dezembro do
ano passado e gerou comoção nacional e internacional.
Na quarta-feira (16), o presidente norte-americano, Barack Obama,
apresentou um pacote de medidas para reduzir a violência provocada por
armas no país. Com 23 ordens executivas, além de propostas legislativas,
o pacote traz um apelo ao Congresso para que proíba armas de combate e
exija maior rigor na verificação de antecedentes dos compradores.
Para o deputado federal Jair Bolsonaro (PP/RJ), autor do projeto
vetado – que previa o porte de arma, mesmo fora de serviço, para
integrantes das Forças Armadas, agentes e guardas prisionais,
integrantes das escoltas de presos e guardas portuários – a alteração é
fundamental para garantir a segurança pessoal desses profissionais, que
muitas vezes são “coagidos e sofrem ameaças” em função da atividade que
exercem.
“Queremos menos armas nas mãos dos bandidos, porque isso é que representa o risco”, enfatizou.
Levantamento do Instituto Sou da Paz mostra que foram aprovados no
Congresso Nacional até hoje seis projetos alterando a Lei 10.826, o
Estatuto do Desarmamento, que entrou em vigor no final de 2003 e definiu
critérios mais rigorosos para o registro, a posse, o porte e a
comercialização de armas de fogo e munição no Brasil.
Apenas uma dessas modificações, com a aprovação da Lei 11.501/07,
ampliou o porte de arma para mais de 20 mil profissionais das carreiras
de auditor fiscal e analista tributário da Receita Federal.
Pelas contas da instituição, mais 73 projetos prevendo novas
alterações no estatuto tramitam atualmente no Congresso. Cerca de 40%
deles visam à ampliação do porte a mais categorias, como fiscais de
trânsito e advogados. Para Melina Rissa, essas modificações representam
um “retrocesso”.
“O Brasil liderou essa discussão há anos, quando aprovou o Estatuto
do Desarmamento, iniciativa reconhecida no mundo todo como uma das mais
avançadas sobre o tema. Antes de falarmos em mudanças no texto,
precisamos trabalhar para garantir sua implementação e o que vemos é que
ainda temos grandes lacunas nesse ponto”, ressaltou.
Autor de outro projeto que prevê flexibilização das regras do
estatuo, o PL 4.444/2012, o deputado federal Edio Lopes (PMDB/RR),
acredita que, com as determinações atuais, muitos brasileiros que não
querem entregar suas armas acabam ficando em situação irregular, por
dificuldades de renovar o registro na Polícia Federal.
A proposta do deputado, que está na Comissão de Segurança Pública e
Combate ao Crime Organizado da Câmara dos Deputados, acrescenta o exame
de acuidade visual entre os requisitos necessários para o registro de
armas e reduz a burocracia para sua renovação, eliminando a comprovação
de capacidade técnica e de aptidão psicológica para o manuseio de arma
de fogo, limitando essa exigência ao registro inicial.
“O rigor deve ser aplicado à primeira solicitação, mas as renovações
devem ser facilitadas, o que representará economia processual e evitará
que milhares de cidadãos de bem fiquem em situação irregular por causa
da demora e da dificuldade de obter a renovação por causa da
burocracia”, justificou.
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