Anvisa indica vacina de HPV para prevenir também o câncer anal Publicado em sexta-feira, janeiro 11, 2013 · Comentar
A Agência Nacional de Vigilância
Sanitária (Anvisa) aprovou uma nova indicação para a vacina contra o
vírus do papiloma humano (HPV): o câncer anal. As três doses
recomendadas, que ainda não estão disponíveis no Sistema Único de Saúde
(SUS) – apenas na rede privada -, já têm sido usadas para prevenir o
câncer do colo do útero.
A aplicação da vacina de HPV tem maior
eficácia se for feita antes do início da atividade sexual de mulheres e
homens, principalmente na faixa dos 9 aos 26 anos. Isso porque, nessa
fase, as pessoas ainda não se expuseram tanto ao vírus, que é uma doença
sexualmente transmissível (DST).
Vacina contra HPV é indicada dos 9 aos 26 anos (Foto: Joe Raedle/Getty Images North America/Arquivo AFP)
A decisão da Anvisa se baseou em um
estudo da Universidade da Califórnia em San Francisco, nos EUA, que foi
publicado em outubro de 2011 na revista científica “New England Journal
of Medicine”.
A pesquisa mostra que a vacina de HPV
para evitar o câncer anal é segura e eficaz, e que, embora esse tipo de
tumor seja menos comum, o número de casos tem aumentado muito nos
últimos anos nos EUA, principalmente entre homens homossexuais e
pacientes com HIV.
Segundo o professor Joel Palefsky, que
conduziu o estudo clínico com 602 voluntários homens, quase 6 mil
americanos são diagnosticados por ano com câncer anal, e mais de 700
morrem. O trabalho aponta, ainda, que a infecção pelo HPV é a mais comum
por via sexual no país.
Os homens analisados eram homossexuais
de países como EUA, Canadá, Brasil, Austrália, Croácia, Alemanha e
Espanha. Todos haviam mantido entre um e cinco encontros sexuais quando
tinham entre 16 e 26 anos. Os participantes foram divididos em dois
grupos: em um, foi aplicada a vacina Gardasil, que protege contra os
quatro principais tipos de HPV (6, 11, 16 e 18), e o outro recebeu
placebo (substância sem princípio ativo nem efeitos colaterais).
Os tipos 6 e 11 costumam causar verrugas
no ânus e nos genitais, enquanto o 16 e o 18 estão mais envolvidos em
casos de câncer. Os pacientes integraram o estudo entre 2006 e 2008, e
foram acompanhados por mais três anos após a última dose da vacina.
Os resultados mostraram que a imunização
diminuiu a incidência de lesões pré-cancerosas em quase 75% entre os
homens que não haviam sido expostos anteriormente a nenhum dos tipos
virais presentes nas doses. Entre aqueles que já haviam tido contato com
essas cepas, a eficácia foi de 54%.
Câncer anal no Brasil
O câncer anal ocorre no canal e nas bordas externas do ânus. É diferente do tumor colorretal, que atinge as regiões do cólon e reto, segmentos anteriores do intestino grosso.
O câncer anal ocorre no canal e nas bordas externas do ânus. É diferente do tumor colorretal, que atinge as regiões do cólon e reto, segmentos anteriores do intestino grosso.
Segundo o Instituto Nacional de Câncer
(Inca), o tumor do canal anal é mais frequente em mulheres, enquanto o
que surge nas bordas ocorre mais em homens. A doença é considerada rara,
e representa de 2% a 4% de todos os tipos de câncer que atingem o
intestino grosso. A faixa etária mais predisposta é após os 50 anos, mas
adultos jovens têm manifestado bastante o problema nos últimos anos.
Em 2010, o Inca registrou 274 mortes por
câncer de ânus no Brasil – 176 mulheres e 98 homens. Infecções por HPV,
HIV e outras DSTs – como gonorreia, herpes genital, clamídia e
condilomatose – estão ligadas ao tumor anal. Fazer sexo sem camisinha,
ter feridas no ânus, altos níveis de estresse, fazer uso crônico de
corticoides (que baixam a imunidade) e fumar também contribuem para a
doença.
De acordo com o cirurgião colorretal
Marcelo Averbach, do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, o câncer anal
provoca lesões na borda da região e desconforto ao evacuar. O cirurgião
do aparelho digestivo Fabio Atui, do ambulatório de proctologia e
DST/Aids do Hospital das Clínicas (HC) da USP, diz que também pode haver
endurecimento da borda anal e sangramento, o que leva a pessoa a achar
que tem hemorroida. Dor, ardor, coceira, secreções, alterações dos
hábitos intestinais e incontinência fecal são outros sinais que podem
ocorrer, diz o Inca.
“O diagnóstico é feito com um toque
retal e um esfregaço que usa uma escovinha semelhante à do papanicolau
no colo do útero. Já o tratamento é por rádio e quimioterapia, e
eventualmente se indica cirurgia”, explica Atui. As chances de cura são
grandes quando a doença é detectada em estágio inicial.
Segundo o médico, a vacina de HPV pode,
no futuro, também ser indicada contra câncer de boca e garganta, outros
tipos ligados a esse vírus. Atui ressalta, ainda, que a vacina protege
apenas contra as quatro cepas principais, o que não evita que haja
infecção ou alguma doença pelas outras mais de cem variações de HPV.
“A grande maioria da população
sexualmente ativa já teve contato com esse vírus. Com o decorrer dos
anos, o próprio sistema imune do organismo protege contra o HPV. Mas
quem tem deficiências imunológicas fica mais vulnerável”, afirma.
Como formas de prevenção, é indicado
fazer sexo anal sempre com preservativo, pois há bactérias no intestino e
microfissuras no ânus que podem facilitar uma infecção. O Inca também
recomenda manter uma dieta balanceada, com pelo menos cinco porções
diárias (400 g) de frutas, legumes e verduras, além de pouca gordura.
Além disso, exercícios físicos regulares reduzem o risco de câncer em
geral.
Focando a Noticia
G1
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