Valor Econômico: “90% dos municípios da PB dependem exageradamente de recursos federais”
Em
matéria publicada no Jornal Valor Econômico, uma pesquisadora do IBGE
destacou a dependência dos municípios brasileiros com os recursos
federais.
Leia:
Longe da autossuficiência, as economias
das cidades do Norte e do Nordeste ainda são fortemente dependentes da
máquina pública. É o que revelou ontem o Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE) em sua pesquisa sobre o Produto Interno
Bruto (PIB) dos municípios.
No levantamento, é possível perceber que,
dos nove Estados da região Nordeste, todos têm mais da metade de suas
respectivas cidades com pelo menos um terço de suas economias
dependentes de recursos da administração pública. Na região Norte, a
situação é menos pior: dos sete Estados, quatro têm mais da metade do
total de suas respectivas cidades com mais de um terço do PIB dependente
de recursos públicos. Para especialistas, isso reflete a ineficácia das
estratégias do governo em desenvolver as economias regionais, e a
presença pouco marcante do setor industrial fora dos eixos Sul e
Sudeste.
A pesquisa mostrou que o peso da
administração pública, no PIB das cidades era superior a um terço das
economias municipais em 35,6% do total de 5.565 municípios do país (ou
1.980). Nesse universo de cidades com alta dependência de recursos
públicos, os municípios do Norte e do Nordeste se destacaram, admitiu a
pesquisadora do Departamento de Contas Nacionais do IBGE, Sheila Zani.
“Se olharmos a Paraíba, por exemplo, mais de 90% dos municípios daquele
Estado têm mais de 40% de suas economias a depender dos recursos
públicos”, detalhou. Em Roraima, todas as cidades do Estado têm mais de
40% de seus PIBs originados de atividades de administração pública.
Esses percentuais são bem menores em
Estados das regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste. Nenhum Estado, de cada
uma dessas regiões, apresentou nível acima de 50% nesse mesmo quesito.
Entre os Estados que apresentaram municípios com economias menos
dependentes da máquina pública estão Paraná, onde apenas 0,5% das
cidades tem mais de um terço de suas economias dependentes de atividades
de administrações governistas, Santa Catarina, com 0,3% no mesmo
tópico, e São Paulo, com 1,9% do total das cidades nessa situação.
A continuidade da presença expressiva
dos governos nas cidades menos centrais do país ajudou a impulsionar o
peso da administração pública na economia como um todo. Dados citados
pela técnica do instituto atestam que a administração pública
representou 13,9% do PIB em 2010, em cálculos preliminares – o segundo
maior nível da última década, admitiu a pesquisadora, perdendo apenas
para 2009 (14,1%), ano em que a economia brasileira mais sofreu efeitos
negativos da crise global.
Para o economista e presidente da
Inter.B Consultoria Internacional de Negócios, Cláudio Frischtak, a
ajuda do governo cria um processo de dependência das economias das
cidades dos recursos públicos. Isso, na prática, é um fator
desestimulante para o desenvolvimento das economias regionais. Na
análise do especialista, os governos têm focado esforços em estratégias
como programas de transferência de renda, sem ênfase em políticas de
desenvolvimento econômico de longo prazo, nas cidades brasileiras. “Não
conseguimos, ainda, ativar os circuitos produtivos do interior”, disse,
frisando que, até o momento, o governo falhou nesse objetivo.
Frischtak chamou atenção para o fato de
que são as cidades mais pobres que mostram maior dependência de recursos
públicos. Portanto, as economias desses municípios só teriam a ganhar
com desenvolvimento de atividades produtivas autossuficientes, avaliou.
Um dos aspectos que podem ter
contribuído para a maior dependência das economias das cidades do Norte e
do Nordeste dos recursos públicos é a presença ainda pequena de
indústrias de peso naquelas localidades. Segundo o consultor do
Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV) e
ex-coordenador de Indústria no IBGE, Silvio Sales, já existe uma
tendência de desconcentração industrial, fora das regiões Sul e Sudeste,
com a abertura de indústrias que acompanham o “boom” de novas
fronteiras agropecuárias. Entretanto, é um processo lento, admitiu.
“Essa concentração industrial já foi mais marcante do que é hoje. Mas é
claro, ainda existe”, avaliou.
Valor Econômico
Focando a Noticia
0 comentários:
Postar um comentário