11 de abr. de 2013

Esquerda e movimentos sociais do Brasil apoiam eleição de Maduro


auditório lotado, a campanha “Brasil com Chávez está com Maduro” conseguiu reunir a esquerda brasileira e diversos movimentos sociais em torno do apoio à candidatura do presidente interino do país à eleição da Venezuela. Maduro, que assumiu a presidência após a morte de Chávez em 5 de março, é a esperança de que a revolução bolivariana e os avanços políticos, sociais, econômicos e culturais e as iniciativas de integração impulsionadas por aquele país terão continuidade.
Em sua fala de encerramento, o Cônsul da Venezuela em São Paulo, Robert Torrealba, expressou que, apesar da doença de Chávez, “nunca imaginaríamos que este momento chegaria, mas chegou. Ele teve muita coragem e ousadia e foi esta ousadia que foi capaz de convencer o povo venezuelano de que tínhamos dignidade”.

Chávez ultrapassou as fronteiras da Venezuela, teve solidariedade com os povos de outros países e é por isso que hoje é lembrado em diversas partes do mundo. “Até 1999 só enxergávamos Miami e Madri, só olhávamos para o norte. Chávez nos convenceu de que tínhamos uma grande fronteira com o Brasil e que deveríamos nos unir na luta por um mundo melhor”, lembrou o diplomata.
Além disso, ele nos “convenceu ainda de que era possível conseguir transformações através do voto. Nos mostrou que com o voto somos capazes de produzir transformações imensas”. E pontuou: “agora, temos a imensa responsabilidade de respaldar, nas urnas, e com o voto, este processo”.
O jornalista e observador das eleições na Venezuela, Max Altman, que conhece Nicolás Maduro desde 2002, quando, ainda diplomata, esteve no Brasil pela primeira vez, ressaltou que se trata de “um quadro extraordinário. Ele tem uma base, formação política importante. Foi motorista de ônibus, sindicalista. Maduro não tem formação universitária, se formou na luta política da vida, cotidiana, e tem uma consolidada formação ideológica”.
Para o integrante da Secretaria de Relações Internacionais do PT, “Maduro terá que enfrentar os enormes desafios que a Venezuela tem pela frente. Mas, os 14 anos de Chávez no governo ajudaram a orientar o povo, a formar sua consciência”. E acrescentou: “hoje, milhões de Chávez transitam pelas ruas da Venezuela e garantirão que esta pátria nunca mais voltará ao passado. Esta sustentação, ao lado de realizações concretas, levarão o processo revolucionário a ser irreversível, a um ponto de não retorno”.
O manifesto das organizações encerrou o ato: “no lançamento da primeira campanha, dissemos: ‘Se venezuelanos fôssemos, votaríamos em Hugo Chávez’. Agora, diremos: ‘se venezuelanos fôssemos, votaríamos em Nicolás Maduro’”. Entusiasmada, a plateia completou: “Chávez, eu juro. Meu voto é em Maduro”, frase repetida pelos milhares de venezuelanos que, desde a morte do Comandante, tomam as ruas de Caracas.

Jovens homenageiam Chávez
Cerca de 40 entidades estiveram presentes na cerimônia, entre partidos políticos e movimentos sociais. Em todas as falas da mesa foi ressaltada a transcendência do processo conduzido por Hugo Chávez na Venezuela e seu legado político e ideológico:
Valter Pomar – Partido dos Trabalhadores (PT) e Foro de São Paulo
“Temos claro que os Estados Unidos, os governos direitistas da União Europeia e da América Latina confundem o processo com a pessoa. Acham que o que acontece na Venezuela é produto de uma pessoa e, portanto, a morte dela pode interromper o processo. Nossa postura tem que ser outra. Chávez é expressão de uma ação social que não acaba com a morte de sua liderança”.
João Paulo Rodrigues – Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST)
“É de extrema importância ajudar no debate e prestar solidariedade ao povo da Venezuela pela solidariedade que o país tem tido com os demais países da América Latina. Temos experiências muito importantes com a Venezuela. Graças à integração com aquele povo, construímos quatro escolas de agroecologia para a formação de estudantes latino-americanos. Mais de 1.200 jovens de toda a América Latina já passaram pela escola Florestan Fernandes. E neste ano, mais de 40 jovens assentados serão formados em medicina e agronomia com parcerias com a Venezuela. Então, a questão é ajudar no processo em curso e garantir que a América Latina tenha outros processos com o mesmo nível de radicalidade”.
Ricardo Alemão Abreu – Partido Comunista do Brasil (PCdoB)
“’Seu nome viverá através dos séculos, e com ele sua obra’. Esta frase foi proferida por Friedrich Engels diante do túmulo de Karl Marx. E como Marx, o legado de Chávez atravessará séculos. Um de seus principais legados é a contribuição para nossa segunda independência. Chávez é o nome pelo qual responde o povo oprimido e explorado, é a voz dos trabalhadores, é a representação da própria Revolução Bolivariana, do movimento popular patriótico latino-americano e socialista: este é o chavismo, e Maduro é fruto deste movimento”.
Ivan Valente – Partido Socialimos e Liberdade (PSOL)
“A luta de libertação de séculos de opressão significa marchar contra a corrente do neoliberalismo. Por isso Chávez tem uma simbologia especial. O radicalismo deste processo foi entender que o povo tinha que ser protagonista e que sua riqueza estava nas mãos da burguesia. Chávez construiu um programa popular anti-imperialista, anti-latifundiário. Enfrentou interesses, porque sem luta, não há conquista. Agora, preocupa a reação imperialista contra um projeto que possa criar uma sociedade sem exploradores e explorados. Tudo o que ele fez foi despertar o povo venezuelano, mesmo com a maior campanha de demonização na mídia já vista”.
Socorro Gomes – Cebrapaz e Conselho Mundial da Paz
A morte de Chávez, ao mesmo tempo em que é uma perda, chama a atenção para algumas características do processo que liderou, como ousadia e franqueza. Ele elevou o sentimento de dignidade e amor próprio não só dos venezuelanos, mas de todos os latinos. Ele esteve como centro no combate à miséria, à desigualdade. Assim, se de um lado cresce a consciência do povo, salta aos olhos também a truculência e o ódio do imperialismo. Isso é fruto de um temor do Chávez, fruto da elevação e da maturidade do povo da Venezuela, conquistou. Trata-se de um processo coletivo e muitas lutas virão. O ataque às nações é típico do imperialismo, mas o povo está mais consciente, unido. Podemos dizer que com Chávez, nós redescobrimos a América Latina e a soberania de nossos povos”.
Nalu Faria – Marcha Mundial das Mulheres (MMM)
“A Marcha Mundial das Mulheres pôde constatar o processo de mobilização, do povo nas ruas defendendo a revolução bolivariana. Chávez, durante o Fórum Social Mundial de Belém, disse que ‘uma revolução socialista ou será feminina, ou não será revolução’. E não ficou no discurso, criou programas e debateu isso profundamente, como fruto de coerência nos processos desenvolvidos desde então. É uma revolução feminista. Assim, foram criados: o Banco da Mulher, o Ministério da Mulher, a política nos Bairros com o programa Barrio Adentro, por exemplo. Apoiar este processo é uma responsabilidade que temos todos os homens e mulheres até que todos sejamos iguais e não vamos e não podemos retroceder em todo o processo de transformação da Venezuela e do mundo inteiro”.
Júlio Turra – Central Única dos Trabalhadores (CUT)
“O processo venezuelano é repleto de contradições, como todos os processos transformadores. Maduro foi sindicalista. Era o homem da negociação, da diplomacia de Chávez. A conjuntura é difícil. Por isso temos que manifestar apoio incondicional a qualquer ameaça ou gesto de ingerência externa nos assuntos venezuelanos, e qualquer medida de ataque que defenda os interesses das multinacionais e dos imperialistas naquele país”.
Rogério Nunes – Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB)
“Temos na Venezuela um processo revolucionário que alterou a correlação de forças e propôs uma nova ordem em um sistema que estava apodrecido como todas as elites latino-americanas na época. Este é um processo de integração regional, de construção de uma nova sociedade, do socialismo do século 21, com soberania popular, com participação dos trabalhadores”.



Focando a Noticia
Fotos: Douglas Mansur
Portal Vermelho

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