Metade das mulheres com depressão pós-parto já apresentava sintomas durante a gravidez
Cerca de metade das mulheres que têm depressão pós-parto já
apresentava sintomas durante a gravidez. A conclusão é de uma pesquisa
feita com pacientes atendidas no setor público em São Paulo e publicada
na Revista Brasileira de Psiquiatria.
O levantamento contou com 831 gestantes, com idade média de 25
anos. Desse total, 219 apresentaram sintomas depressivos depois do
parto, ou seja, uma em três pacientes. O trabalho é de autoria dos médicos Alexandre Faisal-Cury, blogueiro do UOL, e Paulo Rossi Menezes, ambos da Universidade de São Paulo (USP).
A depressão durante a gravidez e no pós-parto tem implicações não
só para a mãe, que apresenta risco de suicídio, como também para o bebê.
O problema eleva o risco de nascimento prematuro e de baixo peso ao
nascer, além de poder prejudicar o desenvolvimento cognitivo do
recém-nascido. Condições socioeconômicas desfavoráveis, falta de suporte
social e problemas conjugais são associados ao problema, segundo os
pesquisadores.
A proporção de mulheres com depressão pós-parto que já apresentavam
sintomas durante a gravidez varia muito entre países onde o tema já foi
pesquisado. Na Inglaterra, chega a 56%, enquanto que na Austrália é de
36%, e nos EUA, de 39%.
As mulheres que participaram do estudo foram acompanhadas desde o
início do pré-natal até um ano e meio após o parto. Três quartos delas
viviam com o parceiro. O salário médio das famílias era de US$ 440.
Pouco mais da metade era branca e tinha mais de oito anos de educação.
Das 219 mulheres com depressão pós-parto, 109 já haviam apresentado
sintomas durante a gravidez. De acordo com a análise, quanto maior o
nível de educação, de contatos com vizinhos e de planejamento da
maternidade, menor o risco de ter os sintomas. Já mulheres na terceira
gravidez em diante e que já haviam sofrido abortos se mostraram mais
propensas.
Embora o estudo tenha apontado uma relação significativa entre as
condições socioeconômicas e o transtorno, Faisal acredita que a
depressão pós-parto varia conforme o contexto da mulher. “Problemas
econômicos e sociais fazem muito sentido para gestantes da rede pública.
Na gestante com melhor nível social, os conflitos tem a ver com a
questão da maternidade, conflito profissional, imagem corporal, vínculo
mãe-filha etc.”, comenta.
“A depressão pré e pós-natal é altamente prevalente na atenção
primária, e profissionais de saúde devem ser treinados para realizar
intervenções simples e eficazes o mais precocemente possível”, concluem
os pesquisadores no trabalho.
Remédios
Mas será que ginecologistas e obstetras estão preparados para fazer
o diagnóstico de depressão? “Na minha opinião, poucos perguntam sobre o
humor na consulta e muitos temem tratar com drogas”, comenta Faisal.
Segundo ele, estudos americanos mostram que dois terços dos
profissionais fazem o diagnóstico com tranquilidade, mas não gostam de
tratar o problema.
O ginecologista explica que, em casos leves, apenas a terapia pode
trazer resultados satisfatórios. Já em casos moderados ou graves, é
necessário considerar o uso de antidepressivos. Neste caso, ele explica,
é preciso considerar riscos e benefícios. Existe uma chance, ainda que
pequena, de o remédio causar alguma malformação no bebê. Porém, não
tratar a depressão aumenta o risco de prematuridade e de baixo peso ao
nascer, que também são condições de risco para a criança.
O importante, segundo o médico, é que as pessoas tenham consciência
de que o problema é comum e o assunto deve ser discutido com as
pacientes e seus familiares.
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