Gelatina industrializada não deixa a pele mais firme e tem excesso de aditivos, alertam especialistas
“No fim, esta gelatina acaba sendo uma mistura de corantes artificiais, conservantes, açúcar, adoçante e a proteína em quantidades muito baixas, apenas para gelificar. Numa avaliação feita pela Pro Teste anos atrás, produtos de 120 gramas tinham entre 0,76 a 2 gramas de colágeno, apenas”, diz Andréa Frias, PhD em Nutrição pela Universidade de São Paulo. “Nutricionalmente, não se ganha nada; para se ter algum benefício é preciso consumir entre 8 a 10 gramas de colágeno por dia”.
Ela lembra que é preciso tomar cuidado com o consumo da sobremesa, especialmente no caso de crianças, por causa dos aditivos químicos.
Hewdy Lobo, médico nutrólogo da Clínica Vida Mental em São Paulo e membro da Abran (Associação Brasileira de Nutrologia) afirma que a quantidade de açúcar na gelatina é muito alta para melhorar o sabor.
“O pecado está nisso. Na verdade, a sobremesa ideal é mesmo fruta. Agora, comer apenas uma vez por semana não causa problemas. Não podemos demonizar a gelatina por si só”. Acrescentar frutas à gelatina pode deixá-la mais saudável, lembra o médico: “Porém, infelizmente, costumo ver essa mistura mais em restaurante do que nas casas que frequento”.
Para ele, é mesmo um mito que a gelatina deixe a pele mais consistente. “Pensando assim, a pessoa vai consumir mais para alcançar isso e vai ter mesmo é um aumento de peso”, diz ele.
Colágeno hidrolisado
A nutricionista Andréa Frias explica que a redução de colágeno no corpo deixa a pele seca, fina, flácida e muito mais sensível a escoriações e aos efeitos da exposição solar. Pequenos cortes começam a levar mais tempo para cicatrizar, as manchas proliferaram com rapidez e surgem rugas e estrias. A deficiência de colágeno também é associada ao enfraquecimento de cabelos e unhas e à fragilidade articular e óssea.
O ideal, segundo ela, é consumir outra forma de colágeno, o hidrolisado. Trata-se de uma mistura de polipeptídeos (macromoléculas constituídas por uma cadeia linear e específica de aminoácidos) obtida pela indústria de gelatinas por meio da hidrólise enzimática do colágeno de pele bovina, suína ou de peixes. “A hidrólise torna os fragmentos proteicos menores e é justamente isso que garante a absorção do produto pelo organismo (cerca de 90%), através do trato intestinal, chegando facilmente à corrente sanguínea”, conta a nutricionista.
Dosagem ideal
Ela relembra que a quantidade diária recomendada de colágeno gira em torno de 8 a 10 gramas. “Estudos conduzidos com essa proteína mostram resultados positivos principalmente quando dosagens acima de 8 gramas são utilizadas. Além disso, para obter bons resultados, tem sido recomendado que o consumo seja diário por um período de pelo menos três meses.”
Vale lembrar que, se o consumo for interrompido completamente, os sintomas podem retornar. “Portanto, uma vez que a pessoa tenha se beneficiado com o colágeno hidrolisado, é recomendado que ela continue fazendo uso de uma dose de manutenção que deve ser ingerida todos os dias”, afirma Frias.
Uma das reclamações de quem consumia esta versão era seu gosto não muito aprazível: “Toda proteína industrializada não tem um sabor agradável, mas hoje há produtos mais neutros para a palatabilidade como sopas, leites e shakes”, conta Denise Reis, engenheira química e gerente de pesquisas e desenvolvimento da Gelita para a América do Sul.
Reis afirma que o colágeno hidrolisado é recomendado especialmente para quem precisa repor proteínas no corpo, seja pela queda de produção de colágeno ou perda de cartilagem, como mulheres que estão na fase da menopausa e praticantes de esportes.
- O colágeno hidrolisado é recomendado para quem teve queda na produção de colágeno ou perda de cartilagem, como mulheres que estão na fase da menopausa e praticantes de esportes
Frias afirma que prefere o colágeno hidrolisado em pó, que pode ser transformado em suco ou colocado em outros alimentos. “Há produtos que a cada 100 ml proporcionam 4,5 gramas de colágeno. Tomando 200 ml se chega à meta diária. Não indico em cápsulas, pois evidências científicas não recomendam esta versão.”
Ela cita que entre os benefícios do consumo da proteína estão melhora da cartilagem, diminuição de dores inflamatórias, melhora significativamente da elasticidade da pele. “Quanto a cabelos e unhas, os estudos ainda são inconclusivos”.
Saciedade
Outro benefício do produto, segundo Frias, é que se consumido antes das refeições, traz saciedade. “Isso é bom para quem precisa controlar o peso. Basta consumir meia hora antes do almoço, por exemplo. Pesquisas também mostraram que pessoas que ingeriram o produto no café da manhã comeram 20% menos no almoço”.
Sobre possíveis contraindicações, a nutricionista enfatiza que o colágeno é um alimento, portanto não necessita de prescrição médica. “Não há nenhuma contraindicação ou efeitos colaterais. Adolescentes, grávidas, diabéticos, obesos e todas as pessoas que não possuem problemas no metabolismo de proteínas, problemas de eliminação ou outras doenças raras podem utilizá-lo sem risco”.
Reis lembra que o valor calórico da proteína é baixo, portanto, seu consumo não engorda: “Eu o considero um produto saudável”.
É importante frisar que muitos vegetarianos e veganos não sabem que a gelatina ou o colágeno hidrolisado vêm dos ossos e pele de animais. Para aqueles que gostariam de substituir o doce, a nutricionista Andrea Frias tem uma dica: “Eu indicaria a agar-agar, uma fibra vegetal com poder gelificante, mas que não traz benefícios, é só uma sobremesa gostosa”. A indicação de Denise Reis é que consumam grãos, em especial quinoa, rica em manganês, cálcio e zinco, para obterem melhorias.
Opinião diferente
O nutrólogo Hewdy Lobo, no entanto, discorda da necessidade da ingestão do colágeno hidrolisado no caso de pessoas que buscam combater a flacidez da pele, por exemplo . “Tomar esta proteína não substitui a atividade física. Para quem faz, a repercussão vai também para as regiões que não foram movimentadas, inclusive para o rosto”.
Ele conta que o ideal é que a atividade física seja feita três vezes por semana, ao menos meia hora por dia, e não precisa ser aquela de academia. Pode ser caminhada e corrida, por exemplo.
E frisa: “Muito mais importante é reduzir a exposição ao sol e usar protetor solar para fortalecer a pele do rosto do que consumir gelatina ou derivados”.
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